Como anda a evolução dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável?

Como anda a evolução dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável?

 

Um estudo desenvolvido pela GlobeScan, em parceria com a SustainAbility, analisou a evolução e cumprimentos dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e suas 169 metas. O estudo Evaluating Progress on the SDGs ou Avaliando o Progresso dos ODS, em tradução livre, mostra que Vida na Água (ODS 14) e Redução das Desigualdades (ODS 10) foram os que menos evoluíram, segundo a percepção de 454 especialistas consultados na amostra.

De outro lado, os ODS 17 (Parcerias e Meios de Implementação) e o ODS 09 (Indústria, Inovação e Infraestrutura) surgem como aqueles que mais evoluíram desde o lançamento dessa iniciativa pela Organização das Nações Unidas. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram chancelados por 193 países durante Assembleia Geral da ONU, em 2015. Eles são a continuidade dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), definidos no começo dos anos 2000.

Capa do estudo Evaluating Progress on the SDGs

Sem dúvida, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável apresentam desafios de alta complexidade e que são chave para que tenhamos uma qualidade de vida sensata no médio e longo prazo. Por mais que pareça clara a necessidade de agir segundo as recomendações apresentadas, a percepção dos especialistas é um tanto assustadora: 49% deles acreditam que a evolução foi “pobre” (poor) nos últimos três anos.

Do ponto de vista de urgência, a maioria dos representantes do Governo, Serviços, Mídia, Academia, Corporações e ONGs trouxeram o ODS 13 — Ação Contra a Mudança Global do Clima como o prioritário a ser direcionado, seguido do Consumo e Produção Responsáveis (ODS 12) e Erradicação da Pobreza (ODS 01).

Prioridades…

O estudo também aponta as recomendações dos objetivos que deveriam ser priorizados conforme diferentes tipos de indústrias e, em alguns casos, ocorreu uma concentração maior em alguns ODS. Exemplo disso foi o setor de Vestuário, que teve 67% dos especialistas considerando a temática do Consumo e Produção Responsável (ODS 12) como prioritária, enquanto as empresas de Geração de Energia deveriam ter as Energias Limpas como foco (75%), segundo os entrevistados. De maneira geral, pode-se dizer que existe uma coerência entre os temas materiais apresentados pelos entrevistados e a atuação das empresas, como foi o caso da indústria Farmacêutica e o ODS 03 — Saúde e Bem-Estar (85%).

Em outros ramos de atuação, como o caso do financeiro e da tecnologia, existiu uma certa distribuição do nível de relevância. Para o primeiro, os ODS sobre o Clima, Trabalho Decente e as Desigualdades obtiveram percentuais próximos (26 a 31%), enquanto para o que envolve tecnologia (Indústrias, Inovação e Infraestrutura), juntamente com as ações para o Clima e Consumo, tiveram avaliações similares.

Existe uma lacuna enorme entre as expectativas e as realizações, o que fica claro durante a leitura do estudo. Embora esse resultado possa promover uma visão pessimista com relação a essa iniciativa, entendo que podemos mudar o ponto de vista e transformar essa distância em oportunidades.

Somente 14% dos especialistas disseram que a iniciativa privada contribuiu para a evolução dos ODS, o que me remeteu à publicação do Porter e Kramer em 2011 (Creating Shared Value), em que citam que as organizações privadas são tidas como culpadas pelos maiores problemas socioambientais da atualidade. Será que essa leitura poderia ser alterada diante de uma postura ativa e coerente das empresas com relação a temática?

Acredito que sim, porém, a relação entre os ODS e o negócio da organização precisa ficar clara para que faça sentido para a empresa. Traduzir o valor a ser somado ao core business por essas diretrizes pode apresentar um novo olhar da organização para o mercado.

Ao trabalharmos com Consumo Responsável na indústria do vestuário, por exemplo, poderíamos agregar valor ao produto, incorporando recompensas aos clientes que tiverem um relacionamento de médio e longo prazo com as suas peças, criando formas de transformar o seu produto em símbolo de um capitalismo responsável, ou até agregando serviços a ele. Essas seriam algumas maneiras de apresentarmos à sociedade outra forma de fazer negócio gerando resultado positivo tanto no botton line quanto nas métricas de sustentabilidade. A criatividade e a inovação são algumas das peças chaves para isso.

O caminho é desafiador, mas a motivação para desbravá-lo é ainda maior.

Wellington Baldo — Consultor em sustentabilidade e inovação na Rastro Sustentabilidade.