Quando decidimos que o projeto RASTRO NA ESTRADA nasceria neste primeiro semestre, nosso propósito era nos conectar com pessoas e negócios de impacto pelo Brasil. O roteiro seria uma viagem de 90 dias saindo de Joinville (SC) até Belém do Pará, com meta de fazer pelo menos 4 eventos abertos e passar por mais de 10 cidades brasileiras. Definimos também como meta entender mais sobre processos produtivos de alimentos de forma sustentável, conhecer projetos sociais, novas formas de organização e também de transformação de empresas, espaços público e comunidades. Passando por agroflorestas, sítios orgânicos, fazendas de cultivo agroecológico, estamos entendendo um pouco mais sobre a produção de alimentos no nosso país. As surpresas nestes primeiros 40 dias são de tirar o fôlego.
A jornada começou no dia 20 de janeiro, quando eu, Arthur, saí de Joinville, passando uma semana na capital de São Paulo para reuniões com clientes e parceiros na cidade. Depois de algumas conversas e sentindo como cada pessoa reage aos desafios diários em grandes empresas e projetos sociais, percebi que as questões de sustentabilidade estratégica de negócios e também desafios de empreendedores é muito parecida tanto em negócios pequenos quanto em grandes corporações. Isso ficou muito claro quando ouvi uma gestora de sustentabilidade, que cuida do negócio no mercado brasileiro, afirmar que quando as diretrizes do negócio vêm da estratégia internacional, ou seja, os objetivos e metas da área são definidas fora do Brasil, a aplicabilidade fica bem mais difícil para ser implementada na nossa realidade. Sustentabilidade é algo que precisa de muita base e entendimento da realidade local para dar certo, não existe uma fórmula pronta para implementar o conceito em negócios, setores e principalmente em países diferentes. Ouvir cada pessoa, entender as demandas locais de cada setor, é fundamental para o sucesso de um projeto em sustentabilidade.
Ainda em São Paulo, foi incrível entender uma pouco mais como a NTICs Projetos alavancou sua atuação no mercado nacional e internacional nos últimos 4 anos. Uma empresa com sede no Brasil e também nos EUA, está transformando a vida de milhares de pessoas com seus projetos de cultura, sustentabilidade e educação. Muito conhecida por impactar cidades e comunidades com projetos inovadores – inclusive ano passado a Rastro foi parceira no CAMINHÃO: CONHECENDO OS ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) -, a NTICs em 2020 deu um salto em projetos e também na geração de empregos com a contratação de mais 10 pessoas para o time em São Paulo. “Nossa atuação está em diversas cidades brasileiras com projetos que englobam os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Estamos com projetos na fronteira Brasil x Venezuela e algumas ações em Nova Iorque. Este ano será de muito trabalho e muito impacto positivo”, afirma Ana Carolina Xavier, diretora de projetos na empresa.
Depois dessa semana intensa na maior cidade do país, nosso próximo destino foi o interior de SP, na cidade de Araraquara. Mas antes de falar sobre ela e as experiências por lá, quero contar um pouco sobre a BUSER – um aplicativo de viagens de ônibus com passagens bem mais baratas que as convencionais. Os descontos chegam até 50% do valor tradicional e olha que legal, é tipo um aplicativo 99 ou UBER, quando você compra as passagens ele te dá o local de saída e chegada do ônibus – geralmente não é na rodoviária da cidade – e além de saber o nome do motorista e a placa do carro, e antes de embarcar você ainda ganha um chocolate. São detalhes que fazem a experiência do usuário prazerosa e acolhedora. Compartilhar carros, casas, apartamentos e tantas outras coisas faz com que tenhamos uma economia colaborativa na visão de que os bens pertencem à alguém, mas o uso é coletivo. Isso é sustentável porque não incentiva o ter e sim o usar as coisas mesmo não sendo propriedade exclusiva. Essa modelo é mais sustentável do que cada um ter algo apenas para o seu uso particular. Esses aplicativos de compartilhamento estão cada vez mais próximos do nosso dia a dia e eu sempre fico me questionando: será que tem mais alguma plataforma que possa ajudar nossa vida por aqui e ainda impactar positivamente nas questões econômicas e ambientais? Pensa aí!
Bom, chegando em Araraquara eu estava em casa. Já conhecia a Vivi e o Guto de outros projetos, sou fã desde 2016 com o PorQueNão? Mídia e também com o documentário recente de 2019 – COMPOSTAGEM, PORQUENÃO? – que ganhou prêmio de melhor audiovisual na temática lixo zero, concedido pelo Instituto Lixo Zero Brasil. Nos 20 dias que fiquei por lá, pude me conectar ainda mais com a Vivi, que é formada em Administração pela ESPM de SP e especializada em Negócios Sociais pela Yunus. Essa paulistana e dona desse mundo todo, decidiu trabalhar com negócios sociais e produção de conteúdo para promover transformações por onde passa. Desde 2014, ela desenvolve conteúdo para o canal no Youtube e Instagram @porquenao.midia, onde faz publicações diárias de boas práticas de sustentabilidade seja em casa, no trabalho ou ações que impactam comunidades.
Atualmente, ela e seu parceiro Guto Zorello, formam uma dupla e tanto. Após viajar pelo Brasil documentando ações de impacto e sustentabilidade, os dois estão sediados em Araraquara, onde administram um hub de cultura e sustentabilidade chamado Casoca Araraquara. Além de oferecer cursos, vivências e encontros, o local serve como modelo de uma casa sustentável. “Temos uma horta que simula o plantio ordenado como em agroflorestas, uma composteira que recebe todos os resíduos orgânicos da casa e dos eventos e agora estamos construindo um banheiro seco que servirá de modelo para explicar para as pessoas que é possível bioconstruir dentro da cidade e impactar positivamente até no sistema de esgoto” afirma Vivi, toda empolgada.
Eles são muito inspiradores, e não para por aí. Para além da Casoca na cidade, o casal está construindo uma #agrofloresta de verdade no interior da cidade, há 15km da casa. Entre idas e vindas de voluntários(as) que a casa recebe, a agrofloresta de apenas 1 ano já tem 3 mil m² de área plantada, uma nascente de água protegida para irrigar o plantio e também abastecer a casa que está sendo construída por muitas mãos, com princípios de #bioconstrução. “Queremos que as pessoas sintam prazer em estar aqui, essa casa está sendo construída com madeira, barra e bambu do próprio terreno. O impacto dela será o menor possível e mostrará que é possível construir com tecnologia social de baixo custo”, afirma Guto.
Aproveitando a estada na cidade, reunimos pessoas que já trabalham com o tema de resíduos para cocriar a primeira Semana Lixo Zero Araraquara. E não é que foi um sucesso? Mais de 30 pessoas compareceram no encontro, desde estudantes, empresário, agentes da companhia de água e saneamento e, claro, empreendedores da gestão de resíduos como cooperativas de reciclagem e a cofundadora da Minhocaria, empresa de compostagem que já coleta resíduos do shopping e indústrias da cidade. Ainda neste mês de março, eles farão o segundo encontro para dar continuidade no planejamento do evento, que acontecerá na última semana de outubro, junto com mais de 100 municípios brasileiros.
Não tem como deixar de falar de comida, pois uma das coisas que mais me fascina em viagens é poder mergulhar na culinária do local que estou visitando. Das mais variadas formas de preparar um arroz com grão de bico e abóbora, a que eu mais valorizo é aquela de estar na cozinha preparando os alimentos, o que faz com que a aproximação das pessoas seja um momento de partilha e alegrias. Estar em conexão com a nossa família e amigos é algo precioso e a comida faz isso. Vivi e Guto são chefs de mão cheia e sempre deixam todos colocar a mão na massa, facilitando com que a culinária seja afetiva e intuitiva.
Por enquanto a aventura Rastro na Estrada fica por aqui. Logo vem mais um capítulo, só que no estado de Minas Gerais. Já estou com o coração cheio de expectativas para conhecer mais desse estado lindo e acolhedor.
Arthur Rancatti – Cofundador da Rastro Sustentabilidade